ENTREVISTA - Cangaço

Postado: Metal Brasil On 14:57 2 comentários

Metal Brasil Entrevista - Cangaço


1- Vocês sempre tentam incorporar elementos de música nordestina nelas ou isso surge naturalmente?
R. Incorporamos elementos que nos emocionam, no caso, a música dita nordestina possui aspectos únicos e muito fortes, que remetem a uma memória antiga de nosso povo. O som pesado é o veículo que encontramos para transmitir essa emoção, sempre de forma natural e espontânea, até porque curtimos muito da música tradicional brasileira. O Metal surge apenas como nossa alternativa de expressão artística.

2- Gostaria de saber como funciona o processo de composição da banda.  Começam pela temática, pela letra ou pelo instrumental?
R. De modo geral, as composições começam com o instrumental, a inspiração para a temática lírica se manifesta quando a música já possui contornos e já transmite um sentimento por si. O foco do som é sempre o som, a poesia apenas ajuda na transmissão da mensagem.

3- The Second Hour é uma das minhas músicas preferidas da banda, talvez por ser uma das que mais salientam essa influência da música nordestina. Na composição das canções, a inserção desses elementos é proposital? Como rola na hora de compor as melodias e as letras?
R. Obrigado pela opinião. O que você chama de inserção não é mais do que uma inspiração diferente para compor Metal, todos os elementos do som pesado estão ali; a valorização do instrumental e dos timbres dentre outras características deixam a música pesada como desejamos. As melodias são compostas junto com o instrumental, as letras surgem depois.

4 - A banda tem alguma influência lírica proveniente de escritores brasileiros?
Sim, pois escrevemos mais em português atualmente. Nomes como Lenine, Chico Buarque, João Cabral de Melo Neto, Cruz e Souza, Humberto Teixeira, Elomar, dentre outros só tem a inspirar, não só a nós, mas a todos os compositores brasileiros. 

5-Como foi o pontapé inicial na escolha do som da banda? Foi algo do tipo "nossa, é isso aí que eu quero tocar!" ou foi evoluindo e se aperfeiçoando?
R. As duas coisas. Aos 14 anos soubemos o que queríamos tocar, desde então o som se aperfeiçoou naturalmente até decidirmos aceitar o desafio de compor Metal genuinamente brasileiro. Não digo que já cumprimos o objetivo, a banda ainda tem muito que aprender e produzir nos próximos anos, mas, acreditamos que o que fizemos até agora foi muito importante.

6- Como vocês gravaram suas primeiras demos e quais softwares utilizaram?
R. As gravações foram feitas em casa, os softwares foram vários. Não podemos dizer quais utilizamos, eram todos piratas e isso ainda é crime. Poderíamos ser presos por isso. ;)

7- Na opinião de vocês, qual é o fator mais importante em fazer música com uma banda?
R. Grande pergunta. Os motivos são vários e variam muito de pessoa para pessoa, mesmo nós 3 do Cangaço temos vários motivos pessoais diferentes e, alguns deles  em comum, como a vontade de expressar algo de positivo e encorajador aos companheiros do presente e inspiração e orgulho para as futuras gerações. Manifestar algo verdadeiro.

8- Quanto ao futuro da banda, há previsão de mudança para um som mais "tradicional" do death metal ou vão continuar no experimentalismo louco?
R. Preferimos que isso se canalize naturalmente, por enquanto as próximas músicas virão mais tradicionalmente experimentais.

9- Vocês já têm previsão pro lançamento do CD?
R. Abril de 2012

11- Vocês já foram procurados pela organização do Metal Open Air (SL - MA)? Se fossem convidados, aceitariam tocar no festival que vai contar com grandes bandas?
R. Não fomos procurados, mas, logicamente adoraríamos participar de um evento de tamanha importância para o Metal no Brasil. Tomara que tudo ocorra bem e em ordem para uma apresentação nossa em posterior edição. 

12- O que acham da realização do MOA no Maranhão e do crescimento de shows fora do eixo Sul/Sudeste?
O Metal Open Air é o reflexo do crescimento do estilo nas regiões citadas. O que prova a capacidade de quebrar barreiras e a adaptabilidade do Metal. Torçamos para que continue se desenvolvendo não só no Norte e Nordeste do país, mas no Brasil como um todo. O país ainda tem muito o que acrescentar à música pesada mundial.

13- Mudou alguma coisa em termos de maior visibilidade, contratos, shows depois que vocês tocaram no Wacken?
Nenhum contrato assinado. A visibilidade aumentou por conta da “vitória” sobre as outras bandas, coisa que ainda pensamos muito se é saudável, artisticamente falando. Tivemos um respeito maior por parte dos ouvintes curiosos e mesmo dos não fãs da banda nos lançamentos posteriores ao concurso. Mas, para quem curte de verdade uma banda, pouco importa quantas competições ela venceu.  

14 - Qual foi a diferença ao tocar na Europa para o público do Wacken?
R. O público encara como um som menos marginal do que encaramos aqui, a violência é apenas parte da diversão num show de metal. Todos as tribos convivem pacificamente e fãs de um sub-estilo do metal assistem shows de outros de forma natural, demonstrando um radicalismo menor. No geral nada pior ou melhor, apenas diferente, devido à sociedade diferente 

15- Como tem sido a recepção dos estrangeiros ao som do CANGAÇO?
R. Reviews de sites gringos e opiniões pessoais de estrangeiros sempre mostram muita curiosidade pelo jeito diferente de desenvolvimento das músicas, o português das letras também chama muita atenção. O incentivo e respeito ao trabalho da banda é devido à busca pela mesma coisa para os ouvintes, de qualquer parte do mundo.

16- E quais os planos pra banda nesse ano que já vem chegando?
Um clipe para janeiro, uma turnê pelo nordeste com o Necromesis de SP em fevereiro, o álbum para Abril e mais novidades inusitadas no segundo semestre.

17- “Eu vi vocês no Abril Pro Rock e foi muito bom. Espero que continuem firmes e fortes levando o nome de Pernambuco para todo o Brasil. Gostaria de saber quando vai ter outro show de vocês por aqui?” 
R. Obrigado! No início de fevereiro estaremos tocando em algumas datas pelo nordeste e uma delas será em Recife.

18 - Planejam alguma passagem pelo Paraná em breve?
Temos muita vontade de nos apresentarmos nos estados do sul, mas, por enquanto, não temos planos. Estamos abertos a propostas de bandas que busquem um intercâmbio ou produtores interessados, cremos que muitas portas se abrirão com o lançamento do álbum em abril. 

19- Como vocês avaliam a cena Heavy Metal Nordestina? 
Cada vez mais surpreendente, ainda não compreendo como gente daqui se identifica tanto com o Metal em si. Um estilo surgido na Inglaterra emocionando brasileiros no sec. XXI. A cena ainda tem muito a desenvolver, entretanto, cresce a cada dia, com as bandas cada vez mais conscientes da importância do profissionalismo e do respeito ao ouvinte. 

20- O que podemos esperar no próximo trabalho de vocês?
Ousadia e a consolidação de um estilo que acreditamos ter criado. Um disco de Metal genuíno com o respeito que devemos ao povo de nosso país (nem tanto aos políticos). Um trabalho artístico que tenha algo a acrescentar a quem tenha acesso.

21- Acho que essa é a pergunta do ano pra bandas brasileiras. Qual a opinião de vocês sobre as recentes declarações de Edu Falaschi?
A prova de que a verdade pode ser muito mal interpretada se dita de má forma, no caso, de cabeça quente. Ninguém é obrigado a ir a shows para apoiar uma causa, seja ela qual for, saia de casa se acha que vale a pena. Talvez a culpa seja menos do público e mais das bandas para realizar algo realmente atrativo. De auto-piedade o mundo já está cheio.

Considerações Finais: 

Agradecemos de coração a todos que apóiam e trabalham na cena do Metal nacional, principalmente a vocês da moderna imprensa. Que criemos registros históricos que espelhem bem a situação que vivemos, para que os erros não se repitam. Obrigado. 

2 Response for the "ENTREVISTA - Cangaço"

  1. DryFlow says:

    Grande Cangaço!
    Mais uma banda que dá orgulho aos brasileiros criando seu som característico e abrasileirado, assim como outras gigantes do passado, Dorsal Atlantica, Stress, Angra, Sepultura, Azul Limão, Korzus, Taurus, Harppia e etc.
    Banda de nível igual ou maior do que as gigantes ou lendas que eu citei!

  2. Renato says:

    "a banda ainda tem muito que aprender e produzir nos próximos anos, mas, acreditamos que o que fizemos até agora foi muito importante."
    Entre outras, a frase acima me chamou atenção. É reflexo da maturidade desse grupo que faz uma autocrítica exemplar. Podem ter certeza que o trabalho feito até então ficará registrado em destaque, não só na cena metal mas na música nordestina e brasileira em si.

    Muito animador saber que em breve teremos mais uma produção da Cangaço!

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